segunda-feira, 13 de julho de 2015

Quer um conselho?

Emmerson Kran | locutor e produtor

A respeito do pequeno avanço de nossa democracia rumo á sua emancipação (alguns desconfiados discordam desse avanço), ficam os rastros dos resvalos, quedas e a mediocridade explícita de cada governo.

É sobre um sutil avanço que me reporto nestas linhas. É sobre um desses mecanismos democráticos responsáveis pela emancipação do pensamento e do olhar sobre nós mesmos: a importância do Conselho Curador de um órgão público de comunicação. O Brasil ainda engatinha na condução de princípios democráticos na sua política de comunicação. Há quem veja nisso espaço para a censura e outras diarreias mentais. Em se tratando deste tema, países da Europa e América do Norte estão anos luzes à nossa frente, alguns deles antigas monarquias. O medo é justamente outro.

A TV Cultura, de São Paulo é o nosso maior exemplo desse avanço, tendo seu Conselho Curador espelho para outros estados e países. Trata-se de um espaço democrático por excelência, em termos de comunicação. Munidos de seus estatutos, tem como primícias controlar a linha editorial e a qualidade dos conteúdos veiculados. Tarefa nada simples numa cultura televisiva como a nossa, permeada dos mais bizarros exemplos e de gostos duvidosos. E não se trata de simplesmente mudar de canal.

A quem seriam reservadas essas cadeiras? Refletir e decidir sobre qualidade televisiva e radiofônica? Não quero aqui especular o óbvio, mas permitir aos meus botões imaginar que áreas seriam aptas a compor o conselho? O que um Conselho de Psicologia faria de melhor do que um político sem as devidas qualificações, somente porque sua cadeira é a de uma secretaria que tem como ocupante, um político indicado nas disputas corriqueiras? A Ordem dos Músicos teria uma cadeira? Artistas independentes? Estudantes?

Quem minimamente conhece a realidade interna dos conselhos, sabe da batalha pela paridade das representações, pois se trata de um espaço de disputas. Poderiam ser disputas de ideias, mas ainda há muito de interesses mesquinhos e particulares. Aqui falo com conhecimento de causa. Um conselho é a sociedade na gestão do conteúdo.

Temos então um desafio? Construir um processo de formação de um conselho curador em nível democrático de dar inveja aos mais progressistas? Alcançar um patamar de qualidade que somente uma empresa/fundação pública é capaz? Faríamos frente às rádios e TVs particulares do estado em termo de qualidade jornalística e conteúdo artístico-cultural e educativo? Quem ganharia senão o público, a população, a democracia?

É aguardar e ver.

Texto publicado no Marco Zero ed.02.

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